UNIVERSO É UMA ESFERA FECHADA, SUGERE NOVO ESTUDO

Por muito tempo, cientistas consideraram que o universo era plano, mas agora um estudo publicado no periódico científico Nature Astronomy mostrou que, na verdade, vivemos dentro de uma gigantesca esfera fechada.

Antes acreditava-se que no vácuo do universo, as partículas chamadas fótons, que transportam energia das radiações eletromagnéticas, seguiam uma linha reta. Mas agora, como o universo pode ser esférico, os astrônomos acreditam que essas partículas vão e voltam de onde vieram.

Um dado que sustenta o formato em esfera do universo é a existência de um fenômeno no qual a gravidade curva o caminho da luz – efeito previsto pela teoria da Lente Gravitacional, proposta por Albert Einstein.

Outro indício é que a gravidade também curva a radiação eletromagnética deixada entre galáxias e estrelas. Essa radiação é um resquício do período inicial do universo, quando o Big Bang ocorreu e se formaram os primeiros átomos neutros – aqueles que têm a mesma quantidade de cargas positivas e negativas.

Universo está se expandindo muito mais rápido do que o esperado
Nessa pesquisa, a conclusão de que o universo é esférico chegou quando os cientistas viram que a gravidade estava curvando bem mais o caminho da luz. Eles notaram por meio de dados do Observatório Espacial Planck, da Agência Espacial Europeia (ESA), que mostram diferenças de concentração entre matéria escura e energia escura.

Matéria escura do universo é uma massa detectável pela força gravitacional, que não emite nenhuma luz. Já a energia escura tem uma pressão negativa, que atua contra a gravidade e que tem acelerado a expansão do universo pelos últimos cinco bilhões de anos.

A discrepância entre a matéria escura e a energia escura faz com que o universo colida consigo mesmo, criando um formato de esfera.

A líder da descoberta, Eleonora Di Valentino, da Universidade de Manchester no Reino Unido, considerou que o estudo pode revolucionar o que sabemos sobre o cosmos, pois nos levaria a “repensar o drástico do modelo cosmológico de concordância atual”.

ARÁBIA SAUDITA ANUNCIA ‘IPO DA SAUDI ARAMCO’, EMPRESA MAIS RENTÁVEL DO MUNDO

Responsável por 10% da produção mundial, petroleira saudica Aramco é avaliada em até US$ 2 trilhões.

A petrolífera Saudi Aramco anunciou neste domingo, 3, sua oferta pública inicial de ações (IPO), após cerca de quatro anos de adiamentos. O príncipe saudita Mohammed bin Salman deu autorização para a listagem nos últimos dias.

A companhia, que produz cerca de 10 milhões de barris de petróleo por dia e é responsável por 10% da demanda global da commodity, vai entrar no mercado doméstico de ações, com listagem na Saudi Stock Exchange (Tadawul).

O órgão regulador de mercado da Arábia Saudita afirmou neste domingo que seu conselho aprovou o pedido da companhia para realizar a oferta pública.

A Aramco, por sua vez, informou que vai iniciar em 9 de novembro reuniões com investidores para atrair demanda doméstica e internacional para a colocação de ações, e que espera fazer a listagem “pouco depois”.

A petrolífera pretende vender de 2% a 5% de suas ações durante a distribuição, com metade do lote comprada por investidores internacionais e a outra metade por sauditas.

Neste domingo, a empresa afirmou que teve um lucro de US$ 68 bilhões nos nove primeiros meses de 2019. O CEO da empresa, Yasir al-Rumayyan, afirmou que ela não foi afetada pelos ataques às suas instalações em 14 de setembro.

Na documentação submetida no processo de listagem, a Aramco afirmou ainda que a porcentagem das ações oferecidas será determinada ao fim do processo de coleta de demanda pelas ações (bookbuilding).

Além disso, a companhia disse ter tido lucro líquido de US$ 111,1 bilhões em 2018, e reservas comprovadas de 226,8 bilhões de barris.

O valor de mercado da companhia é um dos pontos em questão. O príncipe Mohammed bin Salman acredita que a petrolífera estatal vale US$ 2 trilhões, mas analistas que trabalham no IPO indicaram que investidores não devem comprar ações neste nível.

A companhia e os bancos que participam da oferta tentam emplacar um piso de valor de mercado de US$ 1,7 trilhão, ou um ponto médio entre US$ 1,6 trilhão e US$ 1,8 trilhão, de acordo com fontes envolvidas nas discussões. Alguns investidores internacionais, porém, avaliam que a Aramco vale cerca de US$ 1,5 trilhão.

Nove bancos atuam na oferta: JPMorgan Chase, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America Merrill Lynch, Citigroup, HSBC, Credit Suisse e dois bancos de investimento da Arábia Saudita.

O governo saudita espera levantar US$ 100 bilhões na abertura de capital da empresa, e de acordo com informações do The Wall Street Journal, pretende listar a Saudi Aramco em uma bolsa internacional no próximo ano.

O QUE ACONTECERIA SE A LUA SUMISSE

Vamos fingir que, em um belo dia, de maneira inesperada, a Lua sumisse completamente do céu. Não apenas a fonte de inspiração de muitos artistas deixaria de existir, como perderíamos um satélite natural importante para o equilíbrio da vida no planeta Terra.

Isso mesmo, até a mesma a aventura humana na Terra estaria em risco. Duvida? Pois há estudos sobre isso, e vamos resumir alguns dos principais abaixo, todos embasados por especialistas, claro.

Noites mais escuras (e dias mais curtos)

A Lua ajuda a iluminar a Terra à noite ao refletir os raios do Sol (Foto: NASA/ESA)
O primeiro problema seria a falta de uma fonte de luz durante a noite. Claro, quem vive em grandes cidades talvez não sentiria muita falta da luz que a Lua reflete do Sol. Mas áreas rurais, estradas e outras regiões com pouca ou nenhuma iluminação artificial noturna, ficariam em um breu quase total.

E isso também traria problemas para muitos animais, especialmente aqueles com hábitos noturnos. Esses caçadores teriam muito mais dificuldade em localizar suas presas. Estas, por sua vez, teriam muito mais liberdade. A balança ficaria desequilibrada, e os roedores seriam os principais beneficiados.

“Acho que você veria algumas mudanças em quais espécies são mais comuns e quais são raras em um sistema”, observa a pesquisadora Laura Prugh, líder em um estudo sobre a interação de animais com a Lua, publicado em 2013 no Journal of Animal Ecology.

Outra coisa é que o movimento de rotação da Terra tem influência da Lua. Sem ela, o planeta iria girar mais rápido, encurtando o tamanho dos dias. “Nosso dia provavelmente duraria somente seis horas”, arrisca a professora de astrofísica Karen Masters.

Marés mais lentas

Gravidade da Lua é responsável, em grande parte, pelo movimento das marés (Foto: NASA)
Talvez você até já saiba disso, mas a Lua tem forte influência nas marés. Como ela está relativamente próxima da Terra, a força de sua gravidade puxa as águas dos oceanos de acordo com o movimento de translação da Lua e o de rotação de nosso planeta.

Sem a Lua lá no céu, as marés ainda existiriam, mas o movimento de subida e descida seria bem mais lento, reduzindo em cerca de dois terços o tempo atual, de acordo com Matt Siegler, pesquisador da NASA.

As marés não deixariam de existir porque o Sol também tem influência nesse movimento; contudo, tal influência é menor por conta da distância maior entre o astro e a Terra. Essa influência, bem menor que a da Lua, é de cerca de 44% do total de força que a gravidade de nosso satélite exerce sobre os mares. Por isso o movimento seria bem mais lento se a Lua deixasse de existir.

E se o movimento de subida e descida do mar ficar mais lento, isso afeta ecossistemas costeiros. Seres como caranguejos, caracóis, estrelas do mar, mexilhões e algas, entre outros, poderiam deixar de existir ou, no mínimo, teriam que mudar completamente seus hábitos para sobreviver.

Clima mais intenso

A Lua também influencia no clima mais ameno e distribuído por todo o planeta (Foto? Mokokomo/Shutterstock)
Como já mencionamos, a mudança nas marés também traria algumas mudanças climáticas em todo o planeta. É porque elas são, em parte, responsáveis pelas correntes marítimas, que levam água mais quente a lugares mais frios — e vice-versa —, e também espalham precipitações. Não apenas as áreas litorâneas seriam atingidas, como também o interior.

De acordo com Jack Burns, chefe da Rede de Exploração e Ciência Espacial da Universidade do Colorado, temperaturas regionais seriam muito mais extremas. A ausência da Lua ainda aumentaria a força de eventos climáticos e não apenas por conta da maré, mas também porque a gravidade do satélite natural mexe com moléculas em nossa atmosfera.

Sem Lua, sem vida inteligente

A Lua é importante para o equilíbrio da Terra e permite a existência de vida inteligente por aqui (Foto: NASA)
A Lua é tão importante para o equilíbrio da Terra que pesquisadores buscam planetas com um satélite natural parecido para procurar por vida em outros sistemas. “Um planeta fora de nosso Sistema Solar precisa de uma lua de bom tamanho para o clima ser ameno o suficiente para produzir civilizações como a nossa”, explica Burns.

Por fim, o desaparecimento da Lua ainda traria mais problemas em uma escala de tempo maior. A Terra poderia perder o eixo rotacional, pondo fim às estações do ano como as conhecemos e dando início a uma Era Glacial em algumas centenas de milhares de anos, diz Siegler.

Ou seja: a Lua é muito mais do que apenas fonte de inspiração para poetas e artistas de todos os tipos. É mais do que um objeto para tentarmos fotografar ou para ficarmos admirando em uma noite mais calma em meio a nossos mais atarefados dias. É um satélite natural essencial para o equilíbrio da vida na Terra.

GOOGLE SYCAMORE É O SUPERCOMPUTADOR MAIS RÁPIDO DO MUNDO ; VEJA FOTO DO MODELO

O Google disse recentemente que conquistou a supremacia quântica, marco que indica a capacidade da tecnologia para resolver cálculos inviáveis para computadores comuns. Isso foi possível por meio do Google Sycamore, supercomputador quântico que solucionou, em 200 segundos, uma questão que a máquina mais rápida do mundo levaria 10 mil anos para resolver. A IBM, que também investe no setor, contestou a metodologia adotada pelo Google para chegar ao resultado.

O site estadunidense CNET teve acesso ao computador e divulgou suas primeiras imagens. Com um visual bem diferente e tendo que comportar um sistema de resfriamento muito avançado, o Sycamore possui um aspecto bem curioso se comparado a computadores domésticos. Confira a seguir algumas fotos do modelo.

Computador Sycamore é mantido em tubo metálico que preserva temperatura praticamente negativa — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET
Computador Sycamore é mantido em tubo metálico que preserva temperatura praticamente negativa — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET
A computação quântica requer um ambiente adequado, com sistema de resfriamento realmente avançado. Isso porque oscilações na temperatura podem influenciar o resultado dos cálculos realizados pelo chip. Por isso, o Google utiliza seu supercomputador em um cilindro metálico que visa manter a temperatura perto de zero por meio do elemento hélio, além de manter interferências externas como pulsos elétricos longe do chip principal.

O Google Sycamore utiliza até 216 canais de cabo coaxial para se comunicar com os qubits, variando de acordo com o tipo de pesquisa que está sendo realizado. Qubits, por sua vez, são os dados utilizados em computadores quânticos, que têm a capacidade de transcender a capacidade binária (zero e um) de sistemas convencionais.

Conexões do Google Sycamore podem variar de acordo com pesquisa realizada — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET
Conexões do Google Sycamore podem variar de acordo com pesquisa realizada — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET

Rivalidade com a IBM
Grandes empresas além do Google possuem soluções de computação quântica, incluindo as gigantes Microsoft e IBM. A IBM contestou os resultados obtidos pelo Google com o Sycamore, alegando que a estimativa da empresa é falha quando compara os resultados do supercomputador ao Summit, modelo da IBM e não considera alguns parâmetros de hardware do computador. Dessa forma, o resultado final seria diferente de acordo com a metodologia de testes utilizada.

Linhas que transmitem sinais eletromagnéticos para controlar a computação e ler dados dos qubits — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET
Linhas que transmitem sinais eletromagnéticos para controlar a computação e ler dados dos qubits — Foto: Reprodução/Stephen Shankland/CNET
Computação quântica acessível
Por enquanto, a tecnologia de computação quântica ainda está longe demais de se tornar acessível a ponto de substituir a computação binária convencional. Dessa forma, as iniciativas de supercomputadores devem se manter no campo da pesquisa e do desenvolvimento por mais alguns anos. A complexidade do hardware e sistema de refrigeração também mostram que, por agora, será difícil compactar esses computadores.

FORÇA MILITAR DOS EUA É CLASSIFICADA COMO ‘MARGINAL’ ENQUANTO CHINA E RÚSSIA AVANÇAM

As forças armadas americanas estão mais fortes do que antes, mas carecem da capacidade de combater mais de uma guerra com uma grande potência, enquanto adversários como China e Rússia se tornam mais ambiciosos, de acordo com o Índice de força militar dos EUA de 2020.

A Heritage Foundation divulgou o relatório de 500 páginas na quarta-feira, classificando todos os quatro ramos das forças armadas dos EUA e seu arsenal nuclear como “marginal” com base em recursos humanos, equipamentos e outros fatores.

Essa classificação está na metade de uma escala de cinco níveis, que vai da pior pontuação de “muito fraco” à melhor pontuação de “muito forte”.

Na subcategoria de prontidão, o Exército obteve uma classificação “muito forte”, mas sua pontuação total ainda foi marginal. Os fuzileiros navais melhoraram sua pontuação geral de “fraco” desde o índice de 2018.

“Como mãe, veterana e senadora dos Estados Unidos, posso dizer que o Índice de Força Militar dos EUA deste ano destaca as ameaças reais que tiram o meu sono e o de muitas outras pessoas”, a senadora republicana Joni Ernst, presidente do subcomitê do senado de Serviços Armados para Ameaças e Capacidades Emergentes, disse em um evento vinculado à divulgação do relatório.

“Precisamos evitar as ameaças descritas e garantir que nossos aliados e adversários nunca questionem nossa determinação ou nossa capacidade”, disse Ernst. “Não podemos permitir que amanhã seja o dia em que a China vai fazer um cálculo de que tomar Taiwan à força resultaria em qualquer coisa que não seja fracasso. Não podemos permitir que a Rússia decida que os Estados Unidos e nossos aliados da Otan recuariam após uma invasão russa aos países bálticos.”

A senadora republicana de Iowa se concentrou nas ameaças aos interesses dos EUA colocadas pela Rússia, China, Irã, Coreia do Norte e grupos terroristas – assim como o relatório.

“Ao comparar as ameaças colocadas pela Rússia e pela China, não se enganem”, disse Ernst. “Enquanto a estratégia da Rússia é prejudicar os Estados Unidos, a intenção da China é nos deslocar absolutamente. A China procura expandir-se para todos os lugares em que se considera que os EUA estão recuando.”

O relatório da Heritage pede que o Exército tenha 50 equipes de brigadas de combate; que a Marinha tenha 400 navios de força de batalha e 624 aeronaves de ataque; que a Força Aérea tenha 1.200 aeronaves de caça / ataque ao solo; e que os fuzileiros navais tenham 36 batalhões. Nenhuma dessas exigências seria um aumento dramático.

Uma veterana de combate da Guarda Nacional do Exército que rotineiramente critica desperdícios do governo, Ernst enfatizou que ser vigilante na área fiscal e vigilante da defesa não são mutuamente exclusivos. Ela concordou com o relatório Heritage sobre a necessidade de modernizar as forças armadas e parar de gastar em equipamentos desatualizados.

“Os esforços de modernização militar implementados pela Rússia e pela China deram frutos”, disse Ernst.

Esses adversários estão investigando capacidades que buscam compensar os pontos fortes e as vantagens militares americanas, disse ela.

A Rússia está investindo em armas hipersônicas, capacidades cibernéticas disruptivas e aeronaves modernas para projetar seu poder no exterior, empregando bombardeiros na Venezuela e na África do Sul, disse Ernst.

“O uso de guerra híbrida e de manipulação de informação juntamente com essas tecnologias oferece à Rússia uma vantagem assimétrica em muitas das regiões em que opera”, disse ela.

Ernst disse que a China “investiu rapidamente em mísseis balísticos contra navios, equipamentos hipersônicos e inteligência artificial, enquanto aumentou significativamente o tamanho e a capacidade de suas forças navais”.

“O objetivo: desafiar a primazia americana no Pacífico”, acrescentou.

O Índice de Força Militar dos EUA não considera cálculos políticos de onde as forças armadas dos EUA estão ou deveriam ser implantadas, mas, em vez disso, faz uma análise de prontidão.

Desafio de lidar com mais de uma guerra
Em média, os EUA têm se envolvido em uma guerra a cada 15 anos desde que venceram a Guerra Revolucionária Americana, disse Dakota Wood, pesquisador sênior de programas de defesa da Heritage Foundation e editor do índice.

Desde a Guerra da Coreia, os EUA tiveram aproximadamente o mesmo tamanho de força de combate para cada conflito. Lidar com duas grandes guerras nos níveis atuais causaria uma tensão significativa, disse Wood.

Hoje, a Força Aérea tem o mesmo número de esquadrões que durante a Guerra Fria, disse ele.

“O que estamos dizendo é que os militares precisam ser maiores, precisam ter algo além de plataformas de 30 ou 40 anos e precisam ser capazes de treinar o suficiente para que sejam competentes”, disse Wood. “Porque se você deseja impedir o mau comportamento de outros, se eles não o consideram competente, não há dissuasão. Então você está realmente incentivando o tipo de mau comportamento que leva à guerra.”

O índice conclui que o Exército “continuou a aumentar sua prontidão”, mas afirma que ele “continua lutando para reconstruir a força final… e modernizar a força para melhorar a prontidão em algumas unidades para as operações atuais”.

Sobre a Marinha, o relatório diz que “os recursos humanos apresentam um problema potencial, assim como a obtenção de financiamento adequado para aumentar o número de navios na frota mais rapidamente”.
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Sobre a Força Aérea, o relatório diz: “A escassez de pilotos e de tempo de voo degradaram a capacidade da Força Aérea de gerar o poder aéreo necessário para atender aos requisitos de guerra”.

Sobre os fuzileiros navais, diz: “A aviação permaneceu um dos maiores desafios para a corporação em 2019, impulsionada por desafios constantes de manutenção dentro de sua frota legada de aeronaves e por déficits no pessoal-chave de suporte de manutenção”.

Em relação à capacidade nuclear dos EUA, o relatório conclui:

“Os EUA não estão tirando o máximo proveito das tecnologias atuais para produzir ogivas modernas que poderiam ser projetadas para serem mais seguras, com maior eficácia e que poderiam dar aos Estados Unidos melhores opções para fortalecer uma dissuasão convincente.”

O MISSIONÁRIO QUE VIROU ATEU APÓS VIVER COM ÍNDIOS BRASILEIROS E FEZ UMA DAS MAIORES DESCOBERTAS DA HISTÓRIA DA LINGUAGEM

Americano Daniel Everett criou hipótese sobre história da linguística que desafia a tese mais corrente, de Noam Chomsky, sob influência direta de suas 3 décadas passadas na Amazônia.

Daniel Everett na Amazônia; ao conviver com índios pirahã, o então missionário se tornou ateu e criou teoria linguística que desafia a tese predominante — Foto: Arquivo pessoal
Daniel Everett na Amazônia; ao conviver com índios pirahã, o então missionário se tornou ateu e criou teoria linguística que desafia a tese predominante — Foto: Arquivo pessoal

O linguista e acadêmico americano Daniel Everett teve sua vida completamente transformada por conviver, ainda nos anos 1970, com os índios brasileiros da tribo pirahã, na Amazônia.

Everett, na época missionário cristão, uniu-se à tribo com a missão de traduzir a Bíblia ao idioma pirahã. Não saiu conforme o planejado: o americano não só ficou surpreso com a estrutura inusual do idioma dos pirahã, como pela vida cotidiana da tribo. O então missionário acabou se tornando ateu.

“A língua deles não tem passado nem presente — ‘eu vou’ pode ser ‘eu fui’ ou ‘eu irei’. Você precisa entender o contexto”, explica Everett em entrevista por telefone à BBC News Brasil, em português fluente pelas três décadas passadas estudando as línguas do Brasil.

“Aprendi sobre uma autoconfiança que eles têm de poder lidar com seu meio ambiente, e a felicidade que essa confiança traz para eles. Eles sabem que existe um passado, mas não falam sobre ele porque o passado já era, ‘o importante é cuidar dos nossos filhos, cuidar do meu ambiente agora e não se preocupar com o futuro’. (…) Eles não têm culto ou religião, não têm crença em um Deus superpoderoso que criou o mundo. Simplesmente são, na realidade, cientistas, empíricos — têm conhecimento pelas experiências na mata, e não especulações sobre o que não dá para ver”, afirma.

“É a vida sem crenças religiosas e a satisfação que isso traz para seres humanos. Por causa deles hoje sou ateu. Não estou defendendo o ateísmo, estou simplesmente dizendo que isso representa uma alternativa de vida.”

O estudo dessa estrutura linguística curiosa dos pirahã evoluiu para uma proposição que hoje desafia a mais estabelecida teoria da Linguística e que Everett volta a detalhar em um livro recém-lançado em português, Linguagem: A História da Maior Invenção da Humanidade (editora Contexto).

“Sem essa invenção não haveria nenhuma outra”, argumenta. “A linguagem foi essencial para todas as civilizações, para todas as outras tecnologias, para tudo o que temos.”

Daniel Everett com índios pirahã; ‘Aprendi sobre uma autoconfiança que eles têm de poder lidar com seu meio ambiente, e a felicidade que essa confiança traz para eles’ — Foto: Arquivo pessoal
Daniel Everett com índios pirahã; ‘Aprendi sobre uma autoconfiança que eles têm de poder lidar com seu meio ambiente, e a felicidade que essa confiança traz para eles’ — Foto: Arquivo pessoal
Choque de teorias
Everett defende em seu livro que línguas como a pirahã “não parecem possuir qualquer gramática hierárquica” ou estruturada como os demais idiomas, nem parecem ter a chamada recursão, processo linguístico que consiste em inserir uma frase dentro da outra (o recurso de unir, por exemplo, as frases “homem caminha pela rua” e “homem veste chapéu” em “o homem que veste chapéu está caminhando pela rua”).

Essa proposição, porém, desafia a teoria predominante da linguística, encampada pelo influente intelectual Noam Chomsky, que defende a ideia de uma “gramática universal”: de que alguns aspectos estruturais, como a recursão, são comuns a todos os idiomas e de que humanos possuem uma capacidade inata e genética relacionada à aquisição da linguagem. Nesse caso, a linguagem não seria, portanto, uma invenção humana, mas inata aos humanos.

Em resposta à teoria de Everett, Chomsky já chegou a chamá-lo de “charlatão” e argumentou que as peculiaridades do idioma pirahã não colocariam em xeque a “gramática universal”, uma vez que os falantes da língua teriam, segundo ele, os mesmos componentes genéticos que o restante da humanidade.

Everett diz não descartar o valor da genética na linguagem, mas defende que é preciso considerar o papel da cultura humana no desenvolvimento dos símbolos, que por sua vez levam às línguas.

“Nosso cérebro maior se deve à genética, então não estou dizendo que a genética seja irrelevante — mas não necessariamente uma linguagem especificamente designada à linguagem. A inteligência junto com a cultura, a meu ver, é capaz de explicar a origem da linguagem”, afirma à BBC News Brasil.

“Durante muitos anos achei (a teoria de Chomsky) não somente plausível como a aceitei, mas acho que (…) a explicação é mais simples. Sabemos que todos os seres humanos têm cultura, todo o mundo tem símbolos, e simplesmente não vejo necessidade de postular algo a mais (como a ‘gramática universal’). Acho que a diferença entre o ser humano e os outros animais não é tão grande quanto pensávamos.”

Do Homo erectus ao emoji
Outra divergência é temporal. Chomsky e colegas escreveram em artigos que “a faculdade da linguagem provavelmente emergiu recentemente em termos evolucionários, cerca de 70 mil a 100 mil anos atrás”.

Everett, porém, defende que ela é muito mais antiga e remete ao extinto hominídeo Homo erectus, 2 milhões de anos atrás, também sob a influência da cultura e da ânsia exploratória dessa espécie.

Seu argumento é de que o Homo erectus vivenciou a “primeira e maior era da informação” e foi capaz de viajar por diversos continentes e mares, de Israel à China e à Indonésia, graças a sua capacidade de imaginar e de se comunicar pela linguagem, embora com sons provavelmente diferentes dos que somos capazes de fazer hoje.

“Sempre que você falar sobre algo de 2 milhões de anos atrás, haverá controvérsia”, diz. “(Mas) sabemos que o Homo erectus tinha inteligência, cultura e símbolos, que o mar não era barreira para ele. (…) Somos as primeiras criaturas com cultura, então a ideia de que (isso) tenha evoluído para um sistema de símbolos mais avançado, ou seja, para a linguagem, não é tão difícil de imaginar quanto tem sido por causa da influência de Chomsky sobre muitos arqueólogos.”

O pesquisador afirma que assistimos a uma espécie de repetição disso atualmente com a proliferação dos emojis — que, embora não tenham sido criados “do nada”, como Everett diz ter sido o caso com a linguagem, são uma forma nova de comunicação.

“Se você coloca três emojis, faz uma sentença. É, de certa forma, a recriação da história da invenção da linguagem, com o Homo erectus. Estamos criando novos símbolos e encaixando esses símbolos em sentenças”, diz.

Nessa mesma linha, ele opina que nossa fascinação com as redes sociais nada mais é do que a sucumbência “ao impulso das trocas linguísticas” que carregamos há milhões de anos.

Influência brasileira
Everett diz que, para construir suas teorias, foi “fundamental” a experiência de mais de 30 anos que teve estudando a “riqueza linguística” das culturas indígenas da Amazônia brasileira.

E ele acha que avanços do desmatamento e das queimadas nas florestas podem ameaçar essa riqueza.

“Temos tantas lições a aprender ainda sobre as culturas e línguas amazônicas que destruir os ambientes necessários para sustentá-las tira do mundo inteiro uma fonte de conhecimento que não teríamos em nenhum outro lugar do mundo”, diz à reportagem. “Sabemos mais sobre nós quanto sabemos mais sobre eles. Estudar essas línguas e esses povos foi o maior privilégio da minha vida, eles me ensinaram mais sobre a natureza do ser humano do que qualquer coisa que li em livros.”

Por fim, Everett diz que gostaria que as pessoas mantivessem a mente aberta para múltiplas possibilidades sobre as origens das línguas.

“As pessoas têm que ser abertas para várias hipóteses diferentes. A minha hipótese sobre a origem a linguagem tem muito apoio, mas não estou dizendo que não é preciso estudar outras. Temos que ler muito e pensar muito, porque (nós humanos) somos apenas gorilas falantes e precisamos de toda a ajuda possível”, afirma.

“A natureza do ser humano é de achar que é especial em relação aos outros animais, mas não somos. Fazemos coisas estúpidas e brilhantes, de muita beleza ou muito feias. Mas a linguagem é que nos permite fazer isso tudo.”

‘UMA RELAÇÃO CASTRADORA’ : QUAL É O REAL PODER NA ITÁLIA

Nós, italianos, devemos à Igreja e aos sacerdotes, antes de tudo, por termos nos tornado pessoas más e sem religião. Devemos a eles algo ainda mais sério: que a Igreja tenha mantido e mantenha a Itália dividida.”
As relações
Foi assim que o filósofo Nicolau Maquiavel descreveu a relação entre a Itália e o Estado do Vaticano no início do século 16. Quinhentos anos depois, muitos italianos acreditam que a situação não mudou muito.

Jogos de poder — reais ou não —, intrigas e mistérios sempre acompanharam a complexa relação entre os dois países. E, apesar de ser o menor Estado soberano do planeta, o Vaticano representa mais de 1 bilhão de católicos em todo o mundo.

E sua influência vai além da religião, particularmente na Itália, o quinto no mundo em número de católicos, depois de Brasil, México, Filipinas e Estados Unidos. Mas qual é exatamente a influência que o Vaticano exerce hoje neste país?

Image copyrightAFPEstátua da Virgem Maria rodeada por fiéis
Image captionA Itália é o quinto país do mundo em número de católicos
Ferruccio Pinotti, jornalista do jornal Corriere della Sera e autor de vários ensaios de pesquisa sobre os interesses econômicos da Igreja Católica no país europeu, diz que esta influência “é extraordinária, sob todos os pontos de vista”.

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“Essa influência tem, para começar, razões históricas, já que o Vaticano é o herdeiro do Império Romano. E porque a Santa Sé, desde antes da formação do Estado italiano, teve um papel decisivo na política, economia, sociedade e o sistema de valores da Itália”, diz Pinotti.

Agostino Giovagnoli, professor de História Contemporânea na Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, concorda haver “uma profunda influência da Igreja Católica na Itália, que vai além dos fiéis”. “No entanto, não é fácil explicar como essa influência se dá na prática.”

Uma história antiga de poder e religião
O Estado da Cidade do Vaticano, como o conhecemos hoje, nasceu em 1929, após o Tratado de Latrão com a Itália. Esse acordo entre a Santa Sé e Benito Mussolini reconheceu a independência e a soberania do Vaticano e regulamentou as relações civis e religiosas entre a Igreja e a Itália.

No entanto, essa história é muito mais antiga e remonta a muitos séculos. No início do século 4, o imperador Constantino decidiu erguer uma basílica em uma área pantanosa na margem direita do Tibre, onde, segundo a tradição, estava o corpo do apóstolo Pedro.

Foi só no século 15, durante o papado de Júlio 2º, que a basílica que conhecemos hoje começou a ser construída, com os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina e a atual Praça de São Pedro, que Bernini completou no século 17.

Por aproximadamente mil anos, os Estados Pontifícios controlaram grande parte da Itália central, um território no qual os papas exerceram seu poder temporal como qualquer outro soberano europeu da época.

Contudo, o processo de unificação da Itália no século 19 levou à progressiva perda dos territórios papais, e a declaração de Roma como capital da Itália, em 1870, significou o fim do poder temporal dos papas.

O papa da época, Pio 9, chegou a promover uma disposição chamada “Non expedit”, que aconselhava os católicos italianos a participar das eleições políticas do país e, por extensão, a participar da vida política italiana.

Image copyrightGETTY IMAGESTeto da Capela Sistina visto através de uma grade
Image captionO Vaticano é uma monarquia eletiva absolutista, em que o papa é escolhido pelos cardeais e detém os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
O próprio Pio 9, confinado dentro dos muros da Cidade do Vaticano, declarou-se prisioneiro, dando origem a uma longa disputa diplomática, a chamada “Questão Romana”, que durou 59 anos, até a assinatura em 1929 do Tratado de Latrão.

Uma parte desse acordo, o “Concordat”, foi revisado em 1984 pelo então primeiro-ministro italiano, Bettino Craxi.

Com essa reforma, a cláusula que definia a religião católica como religião do Estado foi eliminada, a educação religiosa tornou-se opcional nas escolas.

Além disso, um mecanismo tributário foi estabelecido para financiar a Igreja Católica, comumente referida como “8 por mil”, em que os contribuintes doam 0,8% de seu imposto de renda para uma das religiões reconhecidas no país ou para programas de assistência social do Estado italiano — o cidadão pode escolher para quem irá o dinheiro.

A influência na sociedade
Atualmente, na Itália, mais de 50 milhões de cidadãos são batizados pela Igreja e dois terços da população (cerca de 60 milhões) se declaram católicos.

Cerca de 29% deles, de acordo com dados de 2016 do instituto de estatística ISTAT, vão à missa pelo menos uma vez por semana nas quase 67 mil igrejas de todo o país.

Estas igrejas ficam agrupadas em 224 dioceses, que são o território em que um sacerdote — arcebispos, bispos, etc. — exerce jurisdição eclesiástica. “É uma capilaridade que não existe em nenhum outro lugar do mundo”, diz Franco Garelli, professor de sociologia da religião da Universidade de Turim.

De fato, na Alemanha existem 27 dioceses para 25 milhões de fiéis. Na França, 100 para 47 milhões. Na Espanha, 70 para 42 milhões. Somente o Brasil, o país com mais católicos batizados do mundo, tem mais dioceses: 275. Mas elas atendem um número bem superior de fiéis (172 milhões).

“A capilaridade da presença católica no território italiano tem, por um lado, um papel litúrgico e, por outro, é constituída por um conjunto de paróquias, associações e grupos de voluntários que apoiam uma parte importante da sociedade.”

Isso se traduz, segundo Garelli, em uma “influência política indireta” exercida pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) para que as leis italianas reflitam “a identidade cristã da nação” .

O Vaticano sempre defendeu o papel ético da religião católica na sociedade italiana. Durante anos, a Igreja justificou sua presença no debate público com o argumento de que a maioria dos cidadãos compartilha, mais ou menos ativamente, de suas posições em questões como defesa da vida desde a concepção, salvaguarda da família tradicional e rejeição total de qualquer tipo de lei que permita a eutanásia.

A reportagem entrou em contato com os diretores do L’Osservatore Romano, jornal do Vaticano, e do jornal Avvenire, editado pela CEI, mas ambos se recusaram a participar.

“Até alguns anos atrás, a Igreja considerava que havia valores irrevogáveis ​​para os fiéis e, portanto, irrevogáveis ​​também para uma sociedade predominantemente católica e italiana”, explica Garelli.

“Em especial, a CEI travou inúmeras batalhas para manter uma visão católica sobre questões éticas e o papel da família tradicional”.

Questões controversas
A Itália é, por exemplo, um dos poucos países da Europa Ocidental que não reconhece legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Image copyrightAFPCardeais da Igreja Católica vistos de costas
Image captionVários livros nos últimos anos denunciaram casos de corrupção no catolicismo
No último ranking de 2019 da ILGA Europa, que registra o nível de proteção dos direitos das pessoas LGBTI no continente, a Itália ficou na 35ª posição de 49 países.

Mas essa “visão católica” também afeta outras áreas dos direitos civis. Até 2014, por exemplo, a fertilização assistida heteróloga, quando o(s) doador(es) de gametas ou embriões não faz(em) parte do casal, era proibida por lei. Ainda hoje, é muito difícil realizar esse procedimento.

Mesmo o direito ao aborto, reconhecido legalmente desde 1978, enfrenta resistências, uma vez que médicos se recusam a realizá-lo por motivos religiosos. Segundo um estudo de 2016, 70% dos médicos italianos alegam objeção de consciência para não fazer o procedimento.

“A Igreja italiana continua a ter um poder de persuasão moral muito forte sobre a sociedade italiana”, explica Giovagnoli, que pesquisa há anos as relações entre o Estado italiano e a Igreja Católica.

Image copyrightGETTY IMAGESMulheres em uma procissão católica
Image captionAté 2014, as mulheres não podiam realizar fertilização heteróloga assistida no território italiano
No entanto, ele esclarece: “Seu poder de condicionamento institucional nos últimos anos diminuiu consideravelmente”, porque, em 1992, sua referência política por 50 anos, o partido Democracia Cristã (DC), encerrou suas atividades.

Um ator político e econômico fundamental
“Lembre-se, no sigilo da cabine de votação, Deus os vê… e Stalin não.” A frase pronunciada pelo padre protagonista do filme Don Camilo e o honorável Peppone , de 1955, descreve como, após a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, os sacerdotes fizeram campanha abertamente pelo DC.

“Antes de todas as eleições, os bispos italianos indicavam claramente em quem votar”, diz Giovagnoli. Isso contribuiu para o fato de o DC estar continuamente no governo italiano de 1946 a 1992.

Image copyrightGETTTY IMAGESGiuseppe Conte em uma missa na Basílica de São Pedro
Image captionO atual primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, formou-se em um instituto religioso em Roma
Além dessa presença política importante, a Igreja italiana também tem uma herança econômica relevante. Segundo Gruppo Re, que assessora o Vaticano em questões econômicas, 20% dos imóveis italianos são de propriedade da igreja.

São um total de 115 mil edifícios, incluindo igrejas, escritórios, hospitais, escolas, asilos, orfanatos, universidades, hotéis, edifícios residenciais e terrenos. Em muitos deles, o Vaticano não é obrigado a pagar impostos.

Além disso, através do imposto “8 por mil” — calculado de acordo com a declaração anual de renda —, somente em 2019, a Igreja Católica recebeu cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 4,8 bilhões) do Estado italiano, que pode ser usado conforme seus próprios critérios.

Image copyrightGETTY IMAGESManifestação LGBT na praça de São Pedro
Image captionMuitos analistas dizem que a razão pela qual não há casamento gay na Itália é a influência política do Vaticano
O Vaticano também tem seu próprio banco, o Instituto para as Obras Religiosas (IOR), que, nas últimas décadas — e até uma reforma promovida pelo Papa Francisco — esteve envolvido em casos de lavagem de dinheiro e relações com organizações criminosas.

A reportagem entrou em contato com as agências oficiais do Vaticano para discutir esse assunto, que se recusaram a participar.

“O Vaticano, por meio de suas instituições financeiras, possui enormes recursos e poder. Além disso, pode contar com uma rede de organizações como Opus Dei e Comunion and Liberation, entre outras, que funcionam como um lobby, com enormes influência no mundo dos negócios”, explica Pinotti.

“Se tivesse que resumir a ligação entre a Itália e o Vaticano ao longo da história, diria que é uma relação castradora, que impediu o crescimento social e civil italiano.”

O processo de secularização
No entanto, nos últimos tempos, a situação vem mudando, principalmente desde que o Papa Francisco chegou”, diz Pinotti.

Image copyrightAFPUm padre entre cadeiras vazias
Image captionCada vez menos jovens na Itália participam de cerimônias religiosas
Segundo o jornalista, dentro da Igreja, “há um duro confronto entre grupos mais tradicionalistas, que desejam manter seu poder na economia, nas finanças e na política, e o papa, que está realizando uma reforma corajosa do Igreja que incomoda muita gente”.

Ao mesmo tempo, de acordo com Giovagnoli, a Igreja Católica enfrenta um processo de “descristianização” nos últimos anos, ou seja, uma diminuição do sentimento religioso católico na população, principalmente entre os mais jovens.

Uma investigação sociológica publicada por Garelli em 2016 mostrou que o número de “não fiéis” entre jovens de 18 a 29 anos passou de 23% em 2007 para 28% em 2015, enquanto “fiéis convictos e ativos” são 10,5%. Em geral, mais de um quinto da população italiana não entrou em uma igreja no último ano.

Image copyrightAFPRetrato do Papa Francisco
Image captionO Papa Francisco tenta cumprir uma agenda de reformas, mas enfrenta um setor muito conservador
Há outro fato que demonstra o declínio na relevância da religião na sociedade: em 2014, 108 mil casamentos religiosos foram realizados na Itália, 61.593 a menos do que em 2004 e 127.936 a menos do que em 1994. O Censis, mais prestigiado instituto de estudos sociológicos da Itália, prevê que, nesse ritmo, em 2031, não haverá casamentos católicos.

Segundo Giovagnoli, está ocorrendo na Itália um processo de secularização, semelhante ao que outros países europeus de tradição católica, como França e Espanha, estão passando, embora de forma menos acentuada e mais gradual.

“Provavelmente, assistiremos nos próximos anos a uma transformação. Haverá menos votos católicos, mas continuará a haver uma importante sensibilidade católica. Haverá menos influência na política, mas maior influência na dinâmica social subjacente.”

E ele conclui: “Certamente haverá menos influência econômica, mas a Igreja Católica continuará sendo uma âncora de segurança para uma sociedade frágil como a italiana”.

DELIVERY DE COMBUSTÍVEL CHEGA AO BRASIL; SERIA O FIM DOS POSTOS?

A gente tem acompanhado um constante avanço na tecnologia, com a premissa de tornar o cotidiano cada vez mais fácil. Os bancos já aderiram aos aplicativos, reduzindo a quase zero a necessidade de ir até uma agência. No entanto, a nova aposta de um aplicativo chamado GOfit é levar isso a outro nível, suprindo a necessidade de se locomover até um posto de gasolina para abastecer o carro (ou a moto). Uma realidade em que a gasolina vem até você parecia incogitável… até agora.

Intitulado GOfit, o aplicativo viralizou e gerou uma pulga atrás da orelha na maioria do público, afinal, há uma cultura estabelecida desde sempre, de ir até o posto, encher o tanque, etc e tal. Sendo assim, como é que funciona esse lance de delivery de combustível? Bom, se você imaginou um motoboy te entregando um galãozinho de gasolina, passou longe. Na verdade, o app vai funcionar da seguinte maneira: você solicita os serviços, e uma espécie de caminhão pipa vai até a sua localização. Então, o funcionário desce e abastece seu carro ali mesmo.coloca a mangueira (aquelas de posto mesmo) no seu carro, e abastece.

Com o GOFit, a gasolina vem até você, substituindo a necessidade de ir até um posto
Ainda não se sabe qual vai ser a reação do público em geral, afinal esse tipo de serviço é simplesmente inédito no Brasil. Pode dar muito certo, transformando os postos de combustível nas novas videlocadoras, abandonados em meio a uma mudança radical de hábitos. No entanto, o mais provável é que o aplicativo seja majoritariamente utilizado nas grandes emergências, como quando acaba todo o combustível e não há nenhum posto próximo, ou algo assim. Resta esperar para ver se o GOFit vai cair nas graças do público ou não.

Delivery

Aplicativo já está disponível na Play Store
Também não está claro quando o aplicativo chega para iOS, mas ele já está disponível na Play Store, então usuários de dispositivos Android podem começar a testar se o delivery de combustível é um serviço válido. Por enquanto, os serviços do GOfit atendem apenas as seguintes regiões do Rio de Janeiro: Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Vargem Pequena, mas se der certo, pode se expandir (como aconteceu com aplicativos de outros serviços, como mobilidade – Uber, 99 – ou delivery de comida – iFood, Rappi). Além disso,é válido observar que o preço da Gasolina no aplicativo está R$ 4,79 o litro, enquanto o Etanol está R$ 3,59 o litro.

GOfit oferece delivery de combustível, sendo que a Gasolina no aplicativo está R$ 4,79 o litro, enquanto o Etanol está R$ 3,59 o litro
Na prática, funciona assim: você seleciona a localização, o horário (você vai indicar até que horas o carro estará disponível no local. Quando a empresa receber o seu pedido com a hora-limite determinada, vai verificar a capacidade de atendimento para confirmar o pedido) e tipo de combustível (Etanol ou gasolina), além da quantidade de litros que deseja pedir. Se for encher o tanque, o app já está configurado para reconhecer quantos litros seu carro precisa. Por enquanto, a taxa de entrega é de apenas R$ 0,01. No entanto, existe uma taxa de cancelamento de R$ 7,00. A partir do momento que o serviço for confirmado, se você precisar cancelar, a taxa será cobrada no seu cartão de crédito. Vale lembrar que cada usuário pode cadastrar e solicitar abastecimento para até 5 carros. Além disso, é preciso ter uma pessoa responsável por abrir o tanque do carro no momento do abastecimento. Você pode deixar a chave com o porteiro, por exemplo.

ENTRA EM VIGOR NA RÚSSIA LEI DE “INTERNET SOBERANA”

Para críticos, rede centralizada e controlada internamente significa mais vigilância estatal. Segundo Putin, mais provável do que Rússia se isolar digitalmente, é perigo de Ocidente cortar acesso russo à WWW.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quer se proteger contra ciberataques desenvolvendo uma arquitetura própria de rede digital. Em nome da segurança cibernética, a lei que entra em vigor nesta sexta-feira (01/11) prevê que todo o tráfego de internet russo passe a ser conduzido a nós dentro do país.

Desse modo, se asseguraria que a internet russa siga funcionando, mesmo que as operadoras domésticas não consigam se conectar com servidores estrangeiros. Além disso, as operadoras nacionais devem poder exercer controle central sobre o tráfego dentro de suas redes, estando assim supostamente aptas a identificar e combater potenciais ameaças.

Responsáveis pelo controle seriam, em primeira linha, o Serviço Federal de Supervisão de Comunicações, Tecnologia Informática e Mídia de Massa (Roskomnadsor) e a agência de segurança interna FSB. Para a implementação da nova norma, os provedores terão que adquirir novos equipamentos. Os custos são enormes, e muitas questões técnicas ainda estão em aberto.

Até então, as operadoras de internet russas podiam funcionar sob as condições do livre mercado, explica o especialista Alexander Isavnin, da organização independente Roskomswoboda (Pela liberdade na rede). Agora, o Estado passa a exercer influência direta.

Protestos contra “Putin Net” em Moscou, março de 2019
A lei, assinada por Putin em maio, prevê ainda um abrangente armazenamento de dados. Críticos veem aí um pretexto para ampliar o controle político. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) aponta violação de direitos humanos como liberdade de opinião e livre acesso à informação.

Em meados do ano, milhares de cidadãos protestaram contra a nova lei. Desde já, são bloqueados na Rússia numerosos websites, por exemplo, da oposição. Ativistas temem que no futuro seu país fique digitalmente isolado e que se intensifique a vigilância pelos serviços secretos.

A liderança russa rechaça as ressalvas dos críticos. Segundo o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov, não há planos de desacoplar o país da World Wide Web: bem mais palpável seria o perigo de o Ocidente cortar o acesso da Rússia à rede. Por isso, o país necessitaria uma infraestrutura digital independente para uma internet autônoma. Putin defende a “internet soberana” como essencial à segurança nacional.

POUSO EM PORTA-AVIÕES: PILOTOS RUSSOS REVELAM COMO FAZEM UMA DAS MANOBRAS MAIS COMPLICADAS

Pilotos russos falam de suas experiências e precisão necessária para pousar aeronaves em porta-aviões.

Motores no máximo, impacto no convés, rolagem curta e frenagem brusca com o cabo de retenção… Em 1º de novembro de 1989, pela primeira vez na história da Marinha russa, o piloto de testes Viktor Pugachev pousou um caça Su-27K no cruzador porta-aviões Admiral Kuznetsov. O pouso no navio é considerado um dos elementos mais difíceis do treinamento de voo.

Ao primeiro toque
De acordo com as memórias do Herói da União Soviética Viktor Pugachev, o navio saiu para o mar no dia 1º de outubro de 1989 e prosseguiu imediatamente para a área da baía de Eupatória.

Caça embarcado Su-33 da Força Aeroespacial russa pousa no convés do porta-aviões Admiral Kuznetsov ao largo da costa da Síria
© SPUTNIK / MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
Caça embarcado Su-33 da Força Aeroespacial russa pousa no convés do porta-aviões Admiral Kuznetsov ao largo da costa da Síria
“Começaram os testes conjuntos do navio e dos aviões”, diz Pugachev. “Em novembro houve condições para o primeiro pouso e nós recebemos todas as autorizações pertinentes. Antes disso treinávamos voos arremetendo. Tocávamos no convés sem soltar o gancho e fazíamos mais uma volta. Já no ar, veio a ordem para fazer o pouso completo. Tudo o que eu tinha que fazer era soltar o gancho e pousar com frenagem, o que foi feito com sucesso.”

A principal dificuldade ao pousar em um porta-aviões é que, ao contrário de um aeródromo clássico, o piloto só tem um comprimento mínimo de pista para frenar até à parada total. Não há margem para erro.

Caça Su-27K no convés do porta-aviões Admiral Kuznetsov da Frota do Norte da Rússia
© SPUTNIK / OLEG LASTOCHKIN
Caça Su-27K no convés do porta-aviões Admiral Kuznetsov da Frota do Norte da Rússia
“O comprimento padrão de uma pista é de pelo menos dois quilômetros”, explica Anatoly Kvochur, piloto de testes que participou do desenvolvimento do sistema de decolagem e pouso no porta-aviões do Admiral Kuznetsov. “Em um porta-aviões a pista é de cerca de setenta metros, por isso é necessária a maior precisão. Pousar em um navio e decolar dele é uma tarefa muito difícil, tanto para o piloto como para o material.”
O piloto tem de ter precisão minuciosa. A aeronave deve ser pousada sobre uma pista curta com apenas cerca de quarenta metros de comprimento. A aproximação é feita sob um certo ângulo de inclinação de apenas três ou quatro graus. O toque deve ter lugar a não mais que dois metros do eixo central do convés de voo. Normalmente o porta-aviões está em movimento, pelo que a trajetória de descida tem de ser constantemente ajustada.

Segundo cabo
No porta-aviões há dispositivos especiais como cabos de desaceleração para a parada rápida de um aparelho de 20 toneladas. São cabos de aço fortes e flexíveis estirados transversalmente no convés. Há quatro deles no Kuznetsov. A tarefa do piloto durante o pouso é pegar o cabo com o gancho de frenagem (um gancho na parte traseira da aeronave que é largado manualmente). Depois o sistema automático estica o cabo.

“A avaliação do exercício é considerada ‘excelente’ quando o piloto pega o segundo cabo”, especifica Kvochur. “O avião desce sem alinhamento, como em um aeródromo normal, ou seja, você toca no convés à mesma velocidade vertical.”
Os pilotos navais russos aprenderam a pousar com confiança no Kuznetsov, tanto com mau tempo, de noite ou em condições meteorológicas difíceis. “O sistema televisivo Luna ajuda a fazer pontaria com suas objetivas montadas no convés de voo.

Aviões Su-33 a bordo do cruzador porta-aviões pesado Admiral Kuznetsov durante a passagem do grupo aeronaval da Frota do Norte da Rússia pelo canal da Mancha
© SPUTNIK/ DOVER MARINA
Aviões Su-33 a bordo do cruzador porta-aviões pesado Admiral Kuznetsov durante a passagem do grupo aeronaval da Frota do Norte da Rússia pelo canal da Mancha
Nem todos podem se tornar pilotos de aviões embarcados. Os candidatos estão sujeitos a requisitos especiais, tanto físicos como psicológicos. No momento de toque e acionamento dos cabos de desaceleração há uma sobrecarga nas partes torácica e cervical da coluna vertebral. Além disso, a frenagem brusca também pode causar descolamento da retina, uma das doenças profissionais dos pilotos de porta-aviões em todo o mundo.

O piloto deve ser capaz de manter uma serenidade absoluta e tomar imediatamente a decisão adequada em situação de emergência. Por exemplo, para proteger a aeronave em caso de quebra do cabo, o piloto pousa no convés “a todo o gás”, para que o piloto possa manter a velocidade e arremeter para segunda volta, mesmo depois do toque no convés.

© SPUTNIK / MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
Caça embarcado Su-33 da Federação da Rússia pousa no convés do porta-aviões Admiral Kuznetsov ao largo da costa da Síria
“Se um cabo rebentar, o avião não vai parar sozinho,” revela Kvochur. “Para tais casos há uma instrução clara: tocar na pista, aumentar o empuxo dos motores e ir para a segunda volta. Pior ainda se o cabo se partir depois de a velocidade se ter reduzido. O avião não poderá decolar e cai na água.”
Em dezembro de 2016, no porta-aviões Admiral Kuznetsov o cabo se quebrou e um caça caiu perto da costa síria. O piloto conseguiu se ejetar.

Um porta-aviões ‘terrestre’ e asas dobráveis
De acordo com Pugachev, antes de tocar o convés de um navio pela primeira vez, ele esteve treinando durante anos em um complexo de treinamento terrestre. A técnica de decolagem e aterrissagem era praticada até se tornar automática.

Na era soviética, os pilotos de convés eram treinados no Complexo Terrussaestre de Treinamento e Testes de Aviação (NITKA) na Crimeia. O simulador imita o convés de um porta-aviões e é formado por uma pista de aço equipada com trampolim e cabos de desaceleração.
Por sua forma e tamanho a pista é semelhante à do Admiral Kuznetsov e tem um trampolim de proa para decolagem. Após o colapso da URSS, a Rússia primeiro alugou esse centro de treinamento único à Ucrânia, mas depois construiu um complexo de treinamento no aeródromo naval de Yeisk, região de Krasnodar.

Complexo terrestre de treinamento da aviação embarcada Nitka, na Crimeia
© SPUTNIK / SERGEI MALGAVKO
Complexo terrestre de treinamento da aviação embarcada Nitka, na Crimeia
A aviação embarcada da Marinha da Rússia está equipada com caças pesados Su-33, aviões de assalto Su-25UTG e caças MiG-29KR. Uma das características distintivas das aeronaves da aviação embarcada são as asas dobráveis, que facilitam o seu estacionamento em porta-aviões.

O Su-33 tem uma maior área de asa e tem canards frontais adicionais, em comparação com o seu análogo terrestre Su-27. Os Sukhoi embarcados estão também equipados com chassi reforçado, resistente a impactos durante o pouso, com sistema de reabastecimento de combustível em voo e equipamento especial de navegação.